sexta-feira, 23 de novembro de 2012
Entrevista com Nataniel Ngomane
Docente da Faculdade de Letras e Director da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane respectivamente.
...evidentemente a juventude é determina-te, mas ela esta numa fase de receber, absorver conhecimentos e práticas que já existem... é obrigação da geração mais adulta transmitir esses conhecimentos, inclusivo mostrar quais são os melhores caminhos para mais rapidamente captar e absorver melhor esses caminhos...
Em relação aos temas que foram a mesa de debate sobre indústrias culturais no EncontrARTE, o que tem a comentar, principalmente sobre o tema diálogo inter-cultural em Moçambique?
Primeiro, a própria história mostra que não há nenhum povo que sobrevive fechado sobre si mesmo. As trocas culturais não começam agora, são coisas antigas, se formos a voltar para os anos 400, vamos dar conta que grande onda de navegação marítima, visava exactamente as trocas culturais. A Europa foi beber conhecimento na Ásia, que depois levou revolta os tecidos e outros materiais, e a própria Ásia também foi beber conhecimentos noutros continentes. Portanto, as trocas comerciais entre humanidade é coisa antiga, exactamente para fazer sobreviver a espécie. Não é hoje uma novidade para nós.
O que nós precisamos pensar, é como na dinâmica de hoje, com os meios técnicos disponíveis, também as armadilhas políticas, é possível manter esta troca de uma forma igual para os povos e não aquilo que se pretende, como por exemplo, com o famoso fenómeno de globalização, em que os países ricos introduzem os seus valores nos países pobres, e estes por incapacidade técnica de colocar os seus produtos nos países ricos, são apenas consumidores a ponto de perderem iniciativas de produzirem. Veja só o caso de Moçambique, até hoje, importa tomate, limão e outros produtos da África do Sul. Somos incapazes de produzir isso ou somos preparados apenas para sermos consumidores? Já que o sul-africano produz, porque eu não produzo? Se eles nos fornecem uma série de produtos, nós também temos que produzirmos para lhes fornecer os nossos. Isso é válido para toda relação comercial e cultural.
Não é só uma questão de sentarmos ouvir música ou vermos uma novela, não é! É toda uma troca comercial que faz parte a cultura para desenvolver o país, então tem que haver esta reciprocidade. Para mim diálogo é isso! Tem que ser essa troca de conhecimentos. Daí que tem sido interessante por exemplo, a SADC em definir à área preferencial de desenvolvimento para cada país membro.
O que cada país esta preparado para oferecer neste concerto regional, ora a partir daí, a África Austral pode estar neste em melhores condições de poder oferecer aquilo que tem como grande potencial ao mundo e por seu lado, o mundo lhe oferecer o que tem. È isso diálogo cultural e não apenas receber cooperação que traz dinheiro, como diz um texto de Mia Couto: “Aprovam 100% de apoio para Moçambique e desse apenas 5% é que fica por qui, porque 50% é para pagar os técnicos que mandam para isso”, isto não é diálogo cultural, tem que haver uma troca recíproca e com vantagens mútuas.
Falando de dialogo inter-cultural, será que há necessidade de Moçambique abrir um espaço para que possa dialogar e equilibrar os efeitos de globalização e poder produzir mais produtos culturais competitivos no mundo cultural?
Obviamente! È fundamental. Quer dizer, para mim, a primeira e grande aposta é ao nível da educação, porque nós não podemos pensar que cultura é uma coisa espontânea, não... cultura implica a existência de uma técnica que é a tal arte, e deve ser dominada para ser desenvolvida. Hoje por exemplo, a Coreia do Sul transformou se no primeiro país do mundo, com computadores ao nível de escolas primárias e secundárias e todas elas com internet. Olha, isso é uma forma de abraçar as tendências culturais de mundo de hoje. Qual é a nossa postura em relação a isso? O que nós estamos a oferecer as nossas escolas primárias e secundárias, para que efectivamente haja um desenvolvimento de domínio técnico cientifico, para catapultara cultura.
Nós temos que ter a nossa comparticipação, mas se continuarmos sem técnicos formados vamos continuar incapacitados de participar neste concerto mundial. Vamos sempre sermos globalizados. Esta é que é a grande questão, temos que nos prepararmos internamente, como dizia uma das intervenientes “temos que nos conhecer internamente, conhecermo-nos melhor para poder dialogar com os outros”, eu não posso dialogar com o outro sem conhecer a mim mesmo, e saber o que eu quero, de onde eu venho e para onde é que eu vou. Só depois de estar pronto para isso é que posso dialogar com o outro. Vai dominar melhor a língua estrangeira quem falar bem a sua própria língua, sem isso não é possível.
Até que ponto nós podemos dizer que esse diálogo cultural pode criar ou libertar os moçambicanos daquilo que chamamos de pobreza educacional?
É porque o mundo está cheio de referências. Quer dizer, não começa e termina em Maputo. O mundo está cheio de coisas que Maputo não tem, mas que são importantes para Maputo. Então na base desse diálogo, da troca que eu referi, nós podemos ir vendo como é que é lá fora, e introduzirmos em Moçambique.
A pouco tempo acabo de conversar com uma pessoa e comentávamos a situação do lixo nas cidades do país, particularmente em Maputo. Vamos ao nosso vizinho Suazilândia, Mbabane e Manzine são cidades limpíssimas, e tem muita população, muito tráfico como Maputo. Custa nos alguma coisa irmos naquele país perguntarmos como é que conseguem manterem as suas cidades limpas? E olhar para dentro e dizer, o que os swazis estão a fizerem e nós não estamos a conseguir.
Alguém falava ali de melhor qualidade de gravação musical, muitos músicos até agora, os seus discos são misturados na África do Sul. O que é que a técnica de estúdios da África do Sul tem e que nós não temos? E como corrigir esse erro. Quer dizer, as trocas são para isso.
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