“Grave é
fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim
para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para
justificar o injustificável”.
Leio hoje que um terço da população swazi vive numa condição de
fome e completamente dependente da ajuda alimentar de emergência. Enquanto
isso, chegam notícias que o rei da Suazilândia gasta milhões de dólares na
aquisição de um avião particular e na compra de moradias de luxo para as suas
dezenas de esposas.
A justificação usada é que a opulência e ostentação dos chefes
africanos é uma questão “cultural”. A cultura é, com frequência, usada como
lixívia para lavar imoralidades e uma forma de colocar como “estranha e
estrangeira” preocupações de mudança. O argumento é este: quem critica o rei da
Suazilândia está culturalmente alienado dos valores “africanos”. Invoca-se a
tradição “africana” para justificar práticas eticamente inaceitáveis na África
dos nossos dias. Na realidade, essa “tradição” é invocada de forma truncada,
esquecendo-se duas coisas: a primeira é que a tradição também sugere outras
obrigações (hoje convenientemente esquecidas) e, a segunda, é que essa tradição
é, em grande parte, uma construção feita e refeita ao longo do tempo.
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