sexta-feira, 23 de novembro de 2012

“A cultura é, com frequência, usada como lixívia para lavar imoralidades”


 “Grave é fazer uso de uma cultura de falsa identidade do tipo nós africanos somos assim para credenciar a dominação histórica de um determinado grupo ou para justificar o injustificável”.
Leio hoje que um terço da população swazi vive numa condição de fome e completamente dependente da ajuda alimentar de emergência. Enquanto isso, chegam notícias que o rei da Suazilândia gasta milhões de dólares na aquisição de um avião particular e na compra de moradias de luxo para as suas dezenas de esposas.
A justificação usada é que a opulência e ostentação dos chefes africanos é uma questão “cultural”. A cultura é, com frequência, usada como lixívia para lavar imoralidades e uma forma de colocar como “estranha e estrangeira” preocupações de mudança. O argumento é este: quem critica o rei da Suazilândia está culturalmente alienado dos valores “africanos”. Invoca-se a tradição “africana” para justificar práticas eticamente inaceitáveis na África dos nossos dias. Na realidade, essa “tradição” é invocada de forma truncada, esquecendo-se duas coisas: a primeira é que a tradição também sugere outras obrigações (hoje convenientemente esquecidas) e, a segunda, é que essa tradição é, em grande parte, uma construção feita e refeita ao longo do tempo.

Mia Couto em Lisboa


Num encontro promovido pela UCCLA.
Mia Couto conversará com o público português na próxima quarta-feira, num encontro promovido pela UCCLA e que deverá contar com a participação do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa.
O escritor moçambicano Mia Couto proferirá, na próxima quarta-feira, 21 de novembro, em Lisboa, uma palestra com o tema “A língua dos outros, a palavra nossa”, numa iniciativa que decorrerá na sede da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), na Rua de São Bento.
A conversa com o renomado escritor moçambicano vai decorrer a partir das 18h00, e contará com a presença do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, António Costa, e do secretário-geral da UCCLA, Miguel Anacoreta Correia.
António Emílio Leite Couto, ou Mia Couto, um dos oradores do III Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, organizado pela UCCLA e que decorreu em Natal, no Brasil, de 15 a 17 de outubro, é o escritor moçambicano mais traduzido.

Construção do Hospital Universitário arranca próximo ano


A Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e a empresa Chinesa de Jiangxi rubricaram hoje, 12 de Setembro, em Maputo, um acordo de cooperação que vai permitir a implementação do projecto de construção do hospital e aquisição de material para o seu funcionamento assim como a construção de habitação para os funcionários da Universidade.
De acordo com o reitor da UEM, Prof. Doutor Oralando Quiambo, a construção das infra-estruturas começa em 2013, prevendo a sua conclusão um ano depois.
"Nós temos um campus universitário que temos vindo a eleger como local onde todas as nossas infra-estruturas devem ocorrer. Porém, pelo tamanho do hospital, teremos que considerar, porque estão previstas também residências para os nossos docentes. Se o espaço não for suficiente, uma das infra-estruturas pode ir para os terrenos que temos fora da cidade do Maputo", disse o reitor.
"É um acordo muito importante para uma instituição como a nossa, que temos uma faculdade de medicina que forma futuros médicos. Estes médicos precisam de estagiar em locais onde possam ganhar a prática. Nos últimos anos, devido ao aumento de instituições que formam na mesma área, os hospitais públicos tem sentido uma pressão em receber os estudantes. Nós achamos que conseguindo esta pareceria com os Chineses podemos aliviar o sistema do serviço de saúde em termos do estágio”, acrescentou.
Segundo o reitor, o hospital universitário poderá servir, também, para a realização de investigação não só pela Universidade Eduardo Mondlane mas por todas as instituições que tem cursos na área de medicina ou saúde.
Refira-se que este acordo enquadra-se na parceria que a República de Moçambique tem com a República Popular da China.

AEU lança oficialmente comemorações do Dia Internacional do Estudante


Foi oficialmente lançado, no último fim-de-semana, as comemorações do Dia Internacional do estudante que se assinala a 17 de Novembro próximo cujo lema deste ano é “Estudantes, uma abordagem em três tempos: passado, presente e futuro”.
O acto do lançamento teve lugar no pavilhão da Escola Superior de Ciências de Desporto e foi marcado por uma sessão de ginástica que contou com presenças ilustres do Ministro da Educação, Zeferino Martins, do Reitor da UEM, Prof. Doutor Orlando Quilambo e da Vice-Reitora Académica Ana Mondjana, entre outras figuras.
Falando na ocasião, o Ministro da Educação lembrou aos participantes que ontem os jovens lutaram para libertar a terra e os homens do jugo colonial Português para permitir que os moçambicanos tivessem acesso ao ensino para tomarem os destinos do seu próprio futuro. Zeferino Martins disse que o país quer estudantes com cultura de trabalho e valorizem as qualificações em vez de diplomas.
Vários eventos vão marcar as celebrações do dia internacional do estudante, entre elas a realização de uma marcha e feira de saúde. O ponto máximo vai ter lugar no dia 17 de Novembro com a realização de diversas actividades.

UEM interrompe novos ingressos na ESUDER


A Escola de Superior de Desenvolvimento Rural (ESUDER), da Universidade Eduardo Mondlane (UEM), não vai receber novos ingressos a partir do próximo ano lectivo. O facto foi revelado esta manhã, 10 de Outubro, pelo Porta-voz da UEM, Prof. Doutor Joel das Neves, em conferência de imprensa.
De acordo com a fonte, esta decisão foi tomada na Segunda Sessão Ordinária do Conselho Universitária, realizada em Setembro último, depois da constatação de que a Escola não dispõe de condições para melhor acolhimento de estudantes e melhor desenvolvimento das actividades pedagógicas.
A recepção de novos ingressos naquela Escola, que funciona no Município de Vilankulos, Província de Inhambane, está condicionada à criação de condições que incluem a construção de instalações própria, pois actualmente partilha espaço com a Escola Secundária local, quer sob ponto de vista das salas de aulas e no alojamento dos estudantes.
“A criação desta Escola foi feita num contexto em que se perspectivava, a curto e médio prazo, a criação de infra-estruturas próprias, mas por razões financeiras, que decorrem dos cortes orçamentais, não foi possível dar cumprimento a este objectivo”, disse o Porta-voz.
A ESUDER lecciona cursos como Agro-Processamento; Economia Agrária, Comunicação em Desenvolvimento Rural; Engenharia Rural; Planeamento e Desenvolvimento Rural; Produção Animal; Produção Vegetal.
Durante a conferência de imprensa, das Neves falou igualmente de criação na UEM do Gabinete do Sistema de Garantia de Qualidade Académica, em funcionamento desde Setembro último. Segundo ele, este Gabinete irá se responsabilizar por fazer acompanhamento da qualidade do ensino oferecido nos vários cursos que a Universidade possui.

Universidades marcham pelo meio século de existência



Docentes e estudantes de diversas universidades sedeadas em Maputo marcharam no último Sábado, 20 de Outubro, evento que se enquadra nas celebrações dos 50 anos do Ensino Superior em Moçambique.
A marcha serviu também para agradecer as conquistas alcançadas ao longo do meio século de ensino superior em Moçambique, segundo palavras do Reitor da UEM, Prof. Doutor Orlando Quilambo, que também participou da marcha. “Queremos primeiro agradecer os fazedores dessas universidades. Estamos dispostos para continuar a trabalhar para que nos próximos 50 anos possamos oferecer um ensino superior com melhor qualidade”, disse.
O país conta, actualmente, com 44 Instituições de Ensino Superior, distribuídas por  todas as províncias. O Reitor da UEM referiu-se à qualidade de ensino e ao aumento dos ingressos como um dos grandes desafios das instituições nos próximos anos.
A marcha, que decorreu debaixo da chuva, teve como ponto de partida a Praça da Independência e terminou no Campus Principal da UEM, onde foram realizadas várias actividades, entre as quais análises de glicemia, testes voluntários de HIV/SIDA, medição de tensão arterial e feira de gastronomia

Entrevista com Nataniel Ngomane



Docente da Faculdade de Letras e Director da Escola de Comunicação e Artes da Universidade Eduardo Mondlane respectivamente.
...evidentemente a juventude é determina-te, mas ela esta numa fase de receber, absorver conhecimentos e práticas que já existem... é obrigação da geração mais adulta transmitir esses conhecimentos, inclusivo mostrar quais são os melhores caminhos para mais rapidamente captar e absorver melhor esses caminhos...
Em relação aos temas que foram a mesa de debate sobre indústrias culturais no EncontrARTE, o que tem a comentar, principalmente sobre o tema diálogo inter-cultural em Moçambique?
Primeiro, a própria história mostra que não há nenhum povo que sobrevive fechado sobre si mesmo. As trocas culturais não começam agora, são coisas antigas, se formos a voltar para os anos 400, vamos dar conta que grande onda de navegação marítima, visava exactamente as trocas culturais. A Europa foi beber conhecimento na Ásia, que depois levou revolta os tecidos e outros materiais, e a própria Ásia também foi beber conhecimentos noutros continentes. Portanto, as trocas comerciais entre humanidade é coisa antiga, exactamente para fazer sobreviver a espécie. Não é hoje uma novidade para nós.
O que nós precisamos pensar, é como na dinâmica de hoje, com os meios técnicos disponíveis, também as armadilhas políticas, é possível manter esta troca de uma forma igual para os povos e não aquilo que se pretende, como por exemplo, com o famoso fenómeno de globalização, em que os países ricos introduzem os seus valores nos países pobres, e estes por incapacidade técnica de colocar os seus produtos nos países ricos, são apenas consumidores a ponto de perderem iniciativas de produzirem. Veja só o caso de Moçambique, até hoje, importa tomate, limão e outros produtos da África do Sul. Somos incapazes de produzir isso ou somos preparados apenas para sermos consumidores? Já que o sul-africano produz, porque eu não produzo? Se eles nos fornecem uma série de produtos, nós também temos que produzirmos para lhes fornecer os nossos. Isso é válido para toda relação comercial e cultural.
Não é só uma questão de sentarmos ouvir música ou vermos uma novela, não é! É toda uma troca comercial que faz parte a cultura para desenvolver o país, então tem que haver esta reciprocidade. Para mim diálogo é isso! Tem que ser essa troca de conhecimentos. Daí que tem sido interessante por exemplo, a SADC em definir à área preferencial de desenvolvimento para cada país membro.
O que cada país esta preparado para oferecer neste concerto regional, ora a partir daí, a África Austral pode estar neste em melhores condições de poder oferecer aquilo que tem como grande potencial ao mundo e por seu lado, o mundo lhe oferecer o que tem. È isso diálogo cultural e não apenas receber cooperação que traz dinheiro, como diz um texto de Mia Couto: “Aprovam 100% de apoio para Moçambique e desse apenas 5% é que fica por qui, porque 50% é para pagar os técnicos que mandam para isso”, isto não é diálogo cultural, tem que haver uma troca recíproca e com vantagens mútuas.
Falando de dialogo inter-cultural, será que há necessidade de Moçambique abrir um espaço para que possa dialogar e equilibrar os efeitos de globalização e poder produzir mais produtos culturais competitivos no mundo cultural?
Obviamente! È fundamental. Quer dizer, para mim, a primeira e grande aposta é ao nível da educação, porque nós não podemos pensar que cultura é uma coisa espontânea, não... cultura implica a existência de uma técnica que é a tal arte, e deve ser dominada para ser desenvolvida. Hoje por exemplo, a Coreia do Sul transformou se no primeiro país do mundo, com computadores ao nível de escolas primárias e secundárias e todas elas com internet. Olha, isso é uma forma de abraçar as tendências culturais de mundo de hoje. Qual é a nossa postura em relação a isso? O que nós estamos a oferecer as nossas escolas primárias e secundárias, para que efectivamente haja um desenvolvimento de domínio técnico cientifico, para catapultara cultura.
Nós temos que ter a nossa comparticipação, mas se continuarmos sem técnicos formados vamos continuar incapacitados de participar neste concerto mundial. Vamos sempre sermos globalizados. Esta é que é a grande questão, temos que nos prepararmos internamente, como dizia uma das intervenientes “temos que nos conhecer internamente, conhecermo-nos melhor para poder dialogar com os outros”, eu não posso dialogar com o outro sem conhecer a mim mesmo, e saber o que eu quero, de onde eu venho e para onde é que eu vou. Só depois de estar pronto para isso é que posso dialogar com o outro. Vai dominar melhor a língua estrangeira quem falar bem a sua própria língua, sem isso não é possível.
Até que ponto nós podemos dizer que esse diálogo cultural pode criar ou libertar os moçambicanos daquilo que chamamos de pobreza educacional?
É porque o mundo está cheio de referências. Quer dizer, não começa e termina em Maputo. O mundo está cheio de coisas que Maputo não tem, mas que são importantes para Maputo. Então na base desse diálogo, da troca que eu referi, nós podemos ir vendo como é que é lá fora, e introduzirmos em Moçambique.
A pouco tempo acabo de conversar com uma pessoa e comentávamos a situação do lixo nas cidades do país, particularmente em Maputo. Vamos ao nosso vizinho Suazilândia, Mbabane e Manzine são cidades limpíssimas, e tem muita população, muito tráfico como Maputo. Custa nos alguma coisa irmos naquele país perguntarmos como é que conseguem manterem as suas cidades limpas? E olhar para dentro e dizer, o que os swazis estão a fizerem e nós não estamos a conseguir.
Alguém falava ali de melhor qualidade de gravação musical, muitos músicos até agora, os seus discos são misturados na África do Sul. O que é que a técnica de estúdios da África do Sul tem e que nós não temos? E como corrigir esse erro. Quer dizer, as trocas são para isso.

Sociólogo Elisio Macamo Profere aula Pública na ECA

A Associação Moçambicana de Sociologia (AMS), realizou no dia 03 de Outubro, a segunda Aula Pública de Sociologia, tendo como orador o sociólogo Elísio Macamo, na Escola de Comunicação e Artes, com o tema “ Por uma Sociologia objectiva”.



“Em Moçambique, a arte e as ciências sociais estão a ser marginalizadas e há necessidade para a objectividade. A Escola de Comunicação e Artes não forma Actores, Músicos, Jornalistas, Arquivistas, mais sim seres sociais com uma visão crítica e sociológica” disse Nataniel Ngomane, Director da ECA.
Compactuando com a ideia de Ngomane, o Professor Doutor Patrício Langa, Presidente da Associação Moçambicana de Sociologia, acrescentou que “um bom Sociólogo é um bom Historiador e, para ser um bom Sociólogo é preciso saber e conhecer as artes, e a ECA faz isso muito bem”.
De acordo com Elisío Macamo, Moçambique precisa de um quadro de plausibilidade para discernir a opinião pessoal, onde é possível procurar resposta sem que se coloque os nossos valores ideológicos, porque o compromisso com a objectividade vai permitir ser um cidadão coerente, ter uma atitude crítica e análise dos factos.
Ademais, Macamo disse que é preciso criticar a base das nossas convicções, dos aplausos das nossas certezas, procurar a inteligibilidades do problema e encontrar resoluções. “Os Sociólogos falham quando consideram os factos como problemas da sociedadede, como exemplo disso, o caso dos desmaios da Escola “Kiss Mavota”, manifestações de1 e 2 de Setembro e o o recente caso dos sequestros, colocando a culpa no governo e a comunidade que professa a mesma religião sem ter estudado com profundidade”.
Elísio, afirmou que quem quiser fazer Sociologia para desenvolver o país, esperará a vida toda, porque a Sociologia é uma ciência narcisa, está preocupada com ela própria, é a aventura do mundo.
Questionado sobre como a tradução deve ser concebida na arte, Macamo replicou que as artes podem propiciar uma plena maneira de existir ganhando consciência de que elas devem existir da forma como elas são e não para desenvolvolver o País.
Macamo disse ainda, que as artes são objectivas e que se deve dizer em voz alta, o que os sentidos humanos manifestam “a verdade”.
Aula Pública de Sociologia (APS) é uma iniciativa da Associação Moçambicana de Sociologia (AMS), que teve a sua primeira edição no dia 12 de Outubro de 2011, tendo como figura de destaque o Sociólogo Luís de de Brito, cujo tema foi “Por uma Sociologia sem Fronteira”. A APS procura reconhecer e distinguir publicamente as individualidades ou entidades nacionais e estrangeiras, que se tenham destacado ao contribuir para o desenvolvimento e institucionalização da Sociologia em Moçambique.